Lula e Noboa prometem cooperação contra crime organizado e dizem que divergências ideológicas ficaram para trás

Brasília, 18 de março – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (18) o presidente do Equador, Daniel Noboa, no Palácio do Planalto. Os dois chefes de Estado afirmaram que diferenças ideológicas não devem impedir a construção de uma agenda comum e anunciaram a ampliação da cooperação contra o crime organizado na região, inclusive dentro dos presídios.

Segurança pública

Lula informou que o Brasil enviará um adido da Polícia Federal a Quito e se disse disposto a ir além dos treinamentos sobre investigação de crimes financeiros. Segundo o presidente, a parceria poderá incluir operações conjuntas contra o contrabando de armas, ações em unidades prisionais e coordenação por meio do Centro Internacional de Cooperação Policial da Amazônia, em Manaus.

“Não é preciso classificar organizações criminosas como terroristas nem violar a soberania alheia para enfrentar o crime organizado”, declarou o brasileiro, em referência a iniciativas debatidas nos Estados Unidos.

Panorama no Equador

Noboa afirmou que a violência em seu país se agravou nos últimos anos: a taxa de homicídios saltou para 46 por 100 mil habitantes em 2023, a maior da América Latina. O equatoriano citou narcotráfico, mineração ilegal e tráfico de pessoas e órgãos como desafios comuns aos dois países. “É uma luta que não se pode travar sozinho”, disse.

Relações políticas e comerciais

Ambos os presidentes ressaltaram que a visita marca uma nova fase nas relações bilaterais. Lula destacou que a autonomia brasileira passa pela diversificação de parcerias e que os laços com o Equador são prioridade. Noboa, por sua vez, afirmou que “as discussões ideológicas ficaram no passado” e pediu visão continental aos governos sul-americanos.

O presidente equatoriano defendeu a ampliação de corredores rodoviários, ferroviários e hidroviários ligando a Região Norte do Brasil – especialmente Manaus – aos portos de Manta e Guayaquil, no Equador. O projeto integra as chamadas Rotas de Integração Sul-Americana, conduzidas pelo governo brasileiro.

Balança comercial

Em 2024, o comércio bilateral somou US$ 1,1 bilhão, com US$ 970 milhões em exportações do Brasil. O país vende principalmente veículos, máquinas, medicamentos e produtos de papel e celulose, e pretende incluir carne suína na pauta. Para reduzir o desequilíbrio, Lula anunciou que vai derrubar barreiras a produtos equatorianos: o mercado brasileiro será reaberto para banana (inicialmente desidratada, com análise de risco para fruta in natura até o fim do ano) e para camarão.

Regulação das plataformas digitais

O presidente brasileiro voltou a defender a regulação de “big techs” como instrumento de combate à criminalidade. Segundo ele, redes digitais não podem ser “terra sem lei” onde se disseminam ódio, violência e exploração sexual infantil.

O encontro terminou com a concordância de que os dois governos aprofundarão a troca de informações de inteligência e buscarão novos acordos comerciais, mantendo o foco na segurança pública e no desenvolvimento regional.

Com informações de InfoMoney