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Os principais mercados globais operavam em queda nesta terça-feira (26) depois de o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que pretende demitir a diretora do Federal Reserve Lisa Cook, cujo mandato termina somente em 2038. Às 12h30 (horário de Brasília), o Ibovespa cedia 0,54%, aos 137.265 pontos, enquanto os índices em Wall Street também registravam leve baixa.
Trump alega que Cook prestou declarações falsas em formulários de hipotecas e, por isso, deveria ser afastada. A economista, primeira mulher negra a integrar o conselho em mais de 100 anos de história do Fed, recusou-se a deixar o cargo e sinalizou que contestará judicialmente qualquer tentativa de exoneração.
Temor pela autonomia do Fed
A iniciativa é vista como mais um passo de Trump para remodelar a composição do banco central e pressionar por juros mais baixos. Analistas destacam que nunca houve demissão por justa causa de um governador do Fed. Segundo a economista Andressa Durão, do ASA, um eventual processo poderia se arrastar por meses ou anos, com Cook permanecendo no posto até decisão final, possivelmente da Suprema Corte.
Para a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, as acusações de fraude hipotecária não seriam o verdadeiro motivo do ataque. Cook tem criticado publicamente o efeito inflacionário das tarifas comerciais, postura contrária aos interesses de Trump.
Efeito nos juros e nos ativos
No mercado de renda fixa, a curva de rendimentos norte-americana ficou mais inclinada após a notícia. O retorno da nota de 2 anos recuava 2,4 pontos-base, para 3,706%, enquanto o papel de 10 anos subia 1,2 ponto-base, para 4,287%. O diferencial entre os dois prazos atingiu 59,8 pontos-base, maior patamar desde 16 de julho, antes de voltar para 58 pontos-base.
José Faria Júnior, sócio da Wagner Investimentos, lembra que, com a permanência de Christopher Waller e Michelle Bowman (indicados por Trump) e a recente substituição de Adriana Kugler por Stephen Miran, a saída de Cook daria ao republicano quatro dos seis assentos no conselho, reduzindo o poder do presidente do Fed, Jerome Powell.
Para o estrategista Zachary Griffiths, da CreditSights, um Fed politicamente influenciado que mantenha juros abaixo do nível considerado adequado pode elevar as preocupações com a inflação e diminuir a demanda por títulos do Tesouro americano, minando a credibilidade do país.
Imagem: infomoney.com.br
Tarifas contra a Índia
Paralelamente, Trump anunciou tarifa extra de 25% sobre produtos indianos, com exceções pontuais. O argumento é a importação, pela Índia, de derivados de petróleo da Rússia, medida que coloca o país em situação semelhante à do Brasil em termos de sobretaxação.
O aumento da tensão ocorre depois de Powell adotar tom mais brando na sexta-feira anterior, alimentando apostas de corte de juros na reunião de 16 e 17 de setembro. Esse cenário, porém, dependerá dos dados de emprego e inflação de agosto.
Apesar do ruído, Andressa Durão avalia que o mercado pode absorver a turbulência rapidamente. Caso Cook deixe o conselho e Trump indique um substituto, a percepção seria de um Fed mais “dovish”, o que, paradoxalmente, poderia favorecer apostas em juros mais baixos.
Com informações de InfoMoney
