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Dependência da Europa de tecnologia dos EUA reacende debate sobre soberania digital

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Especialistas e autoridades europeias voltaram a discutir a necessidade de reduzir a dependência de serviços tecnológicos norte-americanos depois que três empresas dos Estados Unidos — Google, Microsoft e Amazon — passaram a concentrar cerca de 70% da infraestrutura de computação em nuvem utilizada no continente.

Temor de um “botão de desligar”

A hipótese de um presidente dos EUA determinar a suspensão de serviços digitais na Europa, cenário apelidado de “kill switch”, ganhou força em debates de políticas públicas nos últimos meses. “Dados críticos ficariam inacessíveis, sites sairiam do ar e sistemas essenciais de hospitais entrariam em caos”, alerta Robin Berjon, especialista em governança digital que assessora formuladores de políticas na União Europeia (UE).

O tema ganhou destaque em maio, quando o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, perdeu acesso à sua conta do Microsoft Outlook após sofrer sanções impostas pela Casa Branca. O TPI, sediado em Haia, havia emitido mandados de prisão contra autoridades israelenses — inclusive o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — pelo conflito em Gaza, decisão que o ex-presidente Donald Trump classificou como “ilegítima”. A Microsoft afirma que “em nenhum momento” suspendeu serviços ao TPI, embora tenha acompanhado o processo que resultou na desconexão.

Domínio norte-americano vai além da nuvem

Além da computação em nuvem, empresas dos EUA lideram segmentos como hardware, internet via satélite, inteligência artificial, sistemas operacionais móveis (Apple e Android) e redes de pagamento (Mastercard e Visa). O resultado, segundo analistas, é um déficit de “soberania digital” na Europa — conceito que se refere à capacidade de um país ou bloco de controlar seus próprios dados e sistemas.

Alternativas dentro do bloco

Provedores locais, como a francesa OVHCloud ou as alemãs T-Systems e Delos, operam no mercado de nuvem, mas ainda representam parcela pequena da oferta e não dispõem da mesma escala, diz Dario Maisto, analista sênior da consultoria Forrester. Mesmo assim, ele considera “mito” a ideia de que a migração para soluções soberanas seja inviável. O estado alemão de Schleswig-Holstein, por exemplo, está substituindo o pacote Microsoft Office 365 e o Windows por ferramentas de código aberto, como LibreOffice e Linux; o Ministério da Digitalização da Dinamarca testa iniciativa semelhante.

Maisto afirma que softwares livres já atendem necessidades básicas, como edição de texto e e-mail, e prevê aceleração dessa mudança “nos próximos cinco a dez anos” por causa da atual “chamada de despertar”.

Resposta das gigantes dos EUA

Google, Microsoft e Amazon argumentam que oferecem soluções de “nuvem soberana” que armazenam dados em servidores localizados no próprio país ou região do cliente. A Google ressalta parcerias com fornecedores europeus, entre eles a T-Systems, que controlam a criptografia das informações e podem acionar um “veto técnico” caso haja tentativa de acesso externo; o Exército alemão está entre os usuários.

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Imagem: bbc.com

O presidente da Microsoft, Brad Smith, declarou que a empresa moveria ações judiciais caso o governo dos EUA ordenasse a suspensão de serviços e incluiu cláusula prevendo essa proteção nos contratos europeus. Já Benjamin Revcolevschi, presidente-executivo da OVHCloud, defende que apenas empresas sediadas e governadas na UE podem garantir “imunidade a leis extracomunitárias”.

Estratégia futura da UE

Zach Meyers, pesquisador do think tank Centre on Regulation in Europe (CERRE), considera razoável criar uma nuvem soberana limitada para dados governamentais críticos, mas avalia ser “irrealista” expulsar totalmente fornecedores norte-americanos da cadeia. Ele cita o projeto Gaia-X, lançado em 2020 para estruturar um ecossistema europeu de nuvem, que enfrenta atrasos e críticas.

Para Matthias Bauer, diretor do European Centre for International Political Economy, o foco deveria ser fortalecer o setor de tecnologia europeu a ponto de competir com EUA e China. Relatório de 2024 sobre competitividade do bloco, assinado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, aponta que apenas quatro das 50 maiores empresas de tecnologia do mundo são europeias. Bauer lembra ainda que barreiras como diversidade de idiomas, legislações trabalhistas e regimes tributários dificultam a expansão de startups dentro da UE.

Embora considere improvável que um presidente norte-americano acione um “botão de desligar” fora de um cenário de guerra, Bauer reconhece o debate. Já Dario Maisto ressalta que organizações europeias passaram a planejar medidas preventivas: “Há dois anos não imaginávamos discutir esses temas em 2025; agora, todos querem estar prontos para o que possa ocorrer”, conclui.

Com informações de BBC News

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