O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, encaminhado pelo governo federal ao Congresso Nacional em abril de 2025, acendeu um alerta entre economistas e analistas fiscais: as previsões de crescimento, arrecadação e controle de despesas estão sendo vistas por muitos como excessivamente otimistas diante do cenário econômico atual.
Entre os principais pontos de atenção está a meta de déficit zero nas contas públicas, combinada com projeções de crescimento do PIB de 2,5% e inflação dentro da meta — expectativas que, segundo especialistas, ignoram os riscos fiscais, as travas políticas e as incertezas externas que devem marcar o ano eleitoral de 2026.
“O governo projeta um cenário fiscal praticamente ideal, mas que dificilmente se sustentará diante do enfraquecimento das receitas e do aumento das pressões por gastos obrigatórios”, analisa o economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper.
De acordo com o Ministério do Planejamento, o documento foi construído com base nas estimativas do Boletim Focus do Banco Central e nas premissas do novo arcabouço fiscal — que prevê a limitação real do crescimento das despesas à 70% do aumento da arrecadação. No entanto, analistas destacam que, mesmo com essas regras, o cumprimento das metas dependerá de cortes difíceis ou receitas extraordinárias ainda não concretizadas.
Contexto: um ano eleitoral e as armadilhas do populismo fiscal
O ano de 2026 será marcado por eleições presidenciais, o que historicamente aumenta as pressões políticas por gastos sociais, desonerações e investimentos públicos. O desafio do governo será conciliar responsabilidade fiscal com demandas eleitorais, sem comprometer a credibilidade da política econômica.
Os riscos das previsões e o que dizem os especialistas sobre os números apresentados
Apesar do discurso oficial otimista, as metas fiscais propostas no PLDO 2026 têm gerado desconfiança entre analistas econômicos e parlamentares do centro. A principal crítica recai sobre a falta de consistência entre as projeções de arrecadação e as despesas previstas, especialmente em um cenário de crescimento econômico moderado e alta rigidez orçamentária.
Segundo estudo do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, há uma diferença estimada de R$ 80 a R$ 100 bilhões entre a receita primária projetada e as despesas que tendem a crescer acima da inflação, impulsionadas por gastos obrigatórios como previdência, saúde, educação e folha de pagamento do funcionalismo.
“O PLDO embute premissas que exigiriam um esforço fiscal excessivo ou receitas extraordinárias improváveis para fechar as contas”, afirmou Daniel Couri, diretor-executivo do IFI.
Crescimento do PIB e inflação abaixo da realidade?
A previsão de crescimento do PIB em 2,5% é considerada elevada por diversas consultorias privadas, como LCA Consultores e Tendências, que trabalham com cenários de 1,2% a 1,5% para 2026, diante da queda nos investimentos e do fraco desempenho do setor industrial. Já a estimativa de inflação dentro do centro da meta (3%) ignora os efeitos dos reajustes administrados e da instabilidade cambial, agravada pelo cenário eleitoral e externo.
O teto de despesas como freio insuficiente
Embora o novo arcabouço fiscal traga limites para o crescimento dos gastos, especialistas apontam que ele não corrige a indexação automática de grande parte das despesas. Isso significa que o governo terá pouca margem para corte sem mexer em políticas sensíveis — o que é politicamente inviável em ano de eleição.
Além disso, a dependência de receitas extraordinárias, como leilões, dividendos e judicializações, é vista com preocupação, já que esses valores são incertos e não sustentáveis a longo prazo.
Resumo: as Diretrizes Orçamentárias para 2026 apostam em um cenário fiscal difícil de se concretizar, combinando otimismo excessivo com limitações políticas e técnicas. O risco é que, diante da frustração das metas, o país volte a enfrentar desconfiança dos investidores e perda de credibilidade junto ao mercado.
Conclusão: responsabilidade fiscal posta à prova em ano eleitoral
As Diretrizes Orçamentárias para 2026 lançam um desafio claro ao governo federal: cumprir metas ambiciosas em um cenário de pressões políticas, crescimento econômico modesto e limitações técnicas do orçamento público. Ao apresentar uma proposta que projeta déficit zero e expansão controlada dos gastos, o governo sinaliza compromisso com o equilíbrio fiscal — mas se apoia em premissas frágeis e receitas incertas.
Especialistas alertam que, para cumprir o que está no papel, será necessário ou adotar medidas impopulares, como cortes em programas ou suspensão de reajustes, ou contar com fontes de arrecadação improváveis. Ambos os caminhos são complexos em um ano marcado por eleições gerais.
O risco não é apenas fiscal, mas também reputacional. Se as previsões não se confirmarem, o país pode sofrer com aumento da desconfiança de investidores, volatilidade no câmbio e elevação nos juros futuros.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. O que é o PLDO 2026?
É o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias enviado pelo governo ao Congresso, que define as metas e prioridades fiscais para o exercício de 2026.
2. Por que as metas de déficit zero são vistas com ceticismo?
Porque se baseiam em premissas de arrecadação elevadas, crescimento otimista e controle de gastos difícil de executar, especialmente em ano eleitoral.
3. Quais são os principais riscos apontados por especialistas?
Frustração de receitas, aumento de despesas obrigatórias, rigidez do orçamento e dependência de receitas extraordinárias.
4. O que é o novo arcabouço fiscal?
É o conjunto de regras que substituiu o teto de gastos e limita o crescimento das despesas ao percentual do aumento das receitas, respeitando metas fiscais.
5. Quais as consequências de não cumprir a meta?
Perda de credibilidade fiscal, impacto negativo nos juros, no câmbio e maior dificuldade para atrair investimentos.