Embate entre Trump e Fed após demissão de Lisa Cook acende alerta nos mercados globais

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu a diretora do Federal Reserve (Fed) Lisa Cook, decisão que gerou preocupação sobre a independência do banco central norte-americano e o rumo da política monetária do país. Cook informou que recorrerá e não pretende renunciar, mantendo o impasse.

Por que a decisão afeta o mundo?

Segundo Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, qualquer alteração nos juros dos EUA repercute globalmente, pois o rendimento dos títulos americanos é considerado um dos investimentos mais seguros. A alta dos juros atrai capital para os Estados Unidos, valoriza o dólar e pressiona o custo de commodities negociadas na moeda norte-americana, elevando a inflação em vários países.

O movimento inverso também é possível. Caso Trump consiga influenciar o Fed a reduzir as taxas, a consequência tende a ser a queda dos juros internacionais. Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, cortes abruptos podem reacender pressões inflacionárias nos EUA, forçando o próprio Fed a voltar a apertar a política monetária no futuro.

Reação imediata dos mercados

Nesta terça-feira, a curva de rendimentos dos Treasuries mostrou queda nos papéis de 2, 5 e 10 anos, enquanto os vencimentos de 20 e 30 anos subiram. No Brasil, o dólar comercial avançou 0,34%, encerrando a R$ 5,433, e o Ibovespa recuou 0,18%, aos 137.771 pontos.

Independência em xeque

Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, afirma que a principal preocupação é a credibilidade do Fed. Sem autonomia, diz ele, cresce a imprevisibilidade sobre decisões futuras, o que pode desencadear volatilidade adicional.

Trump já indicou dois dos atuais integrantes do Fed e, de acordo com o noticiário, avalia nomes como Stephen Miran e o ex-presidente do Banco Mundial David Malpass para possíveis vagas. Igliori ressalta que, ainda que o processo seja turbulento, novos diretores podem atuar de forma técnica e o próprio presidente pode recuar da demissão.

Embora atritos entre governos e bancos centrais sejam recorrentes, Lima alerta que uma interferência direta na autoridade monetária dos EUA “pode abalar a estrutura de algo que sempre foi confiável”.

Com informações de InfoMoney