Especialistas pedem fim de práticas que elevam emissões na produção brasileira

O Brasil precisa suprimir, em suas cadeias produtivas, métodos que aceleram o aquecimento global, afirmaram especialistas reunidos neste sábado (16) no Rio de Janeiro. A avaliação foi apresentada no 60º treinamento para novas lideranças climáticas, promovido pelo Climate Reality Project, organização criada em 2006 pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore.

Uso do fogo em pastagens

A bióloga Mercedes Bustamante, professora titular da Universidade de Brasília (UnB), defendeu a eliminação do fogo na formação de áreas de pastagem. Segundo ela, as mudanças climáticas no país estão “intrinsecamente ligadas” à alteração do uso da terra, especialmente pela pecuária. Bustamante reconheceu avanços na redução de emissões na produção de grãos, porém avaliou que o esforço ainda é insuficiente.

Dieta do gado sob análise

Bustamante enfatizou a necessidade de ampliar pesquisas que detalhem a alimentação do rebanho. A fermentação entérica do gado bovino, processo que libera metano principalmente pela boca e narinas dos animais, é vista há anos como fonte relevante de gases de efeito estufa. Melhorias na nutrição e no manejo, apontou a pesquisadora, podem reduzir esses impactos.

Crescimento do consumo de carne

O climatologista Carlos Nobre concordou com a urgência de rever práticas na pecuária, lembrando que o consumo de carne no país segue em alta e não dá sinais de recuo. Ele destacou avanços da ciência em agricultura regenerativa, com foco na recuperação de pastagens e na renovação de biomas, mas defendeu intensificar estudos para cortar emissões do setor.

Parcerias público-privadas

Para Thelma Krug, pesquisadora aposentada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o enfrentamento às emissões depende de parcerias entre governo e iniciativa privada. Essas articulações, disse, são essenciais para acelerar soluções capazes de reduzir danos ambientais originados da atividade econômica.

O encontro no Rio é a terceira etapa do Reality Tour, série global de eventos que busca mobilizar lideranças e pressionar por ações climáticas mais ambiciosas até a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Com informações de Valor Econômico