Troca de bateria em 3 minutos ganha fôlego na China e desafia recarga ultrarrápida

Shanghai, 19 de agosto de 2025 – A disputa entre a recarga ultrarrápida e a troca instantânea de baterias ganhou um novo capítulo na China. Enquanto grande parte da indústria aposta em carregadores de alta potência que prometem abastecer um carro elétrico em até cinco minutos, a estratégia de substituir o conjunto de baterias em apenas três minutos começa a se expandir com o peso de grandes investidores.

Nio impulsiona a troca; CATL entra no jogo

A Nio, startup chinesa listada em Nova York, opera mais de 3.000 estações de troca em todo o país. O procedimento é totalmente automatizado: o veículo alinha-se sobre uma plataforma retrátil, braços robóticos removem a bateria descarregada e instalam outra carregada, concluindo o processo em cerca de 180 segundos.

Agora, a Contemporary Amperex Technology (CATL), maior fabricante de baterias do mundo, planeja acelerar essa infraestrutura. A companhia pretende erguer 1.000 estações de troca para carros de passeio ainda em 2025 e ampliar a rede para aproximadamente 10.000 pontos até 2028, capazes de atender um milhão de veículos por dia. Também estão previstos sistemas semelhantes para caminhões pesados.

Duo Fu, analista da Rystad Energy em Xangai, avalia que a capacidade técnica da CATL e sua influência sobre o mercado tornam o avanço da troca de baterias “muito mais fácil”. Segundo ele, as estações podem aproveitar horários de tarifa elétrica reduzida, enquanto carregadores ultrarrápidos exigem reforço caro na infraestrutura de transmissão.

Apoio governamental e metas de expansão

Com expectativa de que as vendas de elétricos superem as de modelos a combustão neste ano, Pequim intensifica o apoio a ambas as tecnologias. A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma anunciou, em julho, a construção de 100.000 postos de recarga rápida até 2027. Em paralelo, Xangai oferece subsídios de até 40% para investimentos em estações de troca.

Defensores do modelo argumentam que a substituição de baterias é mais adequada a áreas densamente povoadas, onde a maioria dos moradores vive em apartamentos sem ponto de recarga próprio. Além disso, o sistema pode reduzir em milhares de dólares o preço do veículo, já que o motorista não compra a bateria.

Ceticismo e padronização

Apesar do otimismo, há dúvidas sobre a interoperabilidade entre diferentes marcas de carros e pacotes de bateria, bem como sobre o custo elevado das estações. He Xiaopeng, presidente da Xpeng, revelou que estudou a tecnologia por cerca de cinco anos, mas decidiu abandoná-la em 2023 em favor de avanços no próprio conjunto de baterias.

Yang Jun, responsável pela divisão de troca da CATL, sustenta que a padronização beneficiará todo o setor e calcula a necessidade de 30.000 estações em todo o país, número inferior aos 100.000 postos de gasolina chineses.

Investimentos em caminhões elétricos

Para o transporte pesado, a CATL planeja instalar 300 estações de troca ainda este ano dentro de um acordo com a estatal Sinopec, visando cobrir 150.000 km de rotas logísticas. Robin Zeng, fundador da CATL, estima que metade dos caminhões vendidos na China será elétrica em 2028.

A empresa também fechou parceria com a locadora CAR e a CMB Financial Leasing para criar uma frota de 100.000 veículos alugados com baterias intercambiáveis.

Analistas do Institute for Energy Economics and Financial Analysis apontam que, embora os caminhões elétricos custem mais na compra, tornam-se mais baratos ao longo da vida útil graças ao menor gasto com energia. Para Yuqian Ding, chefe de análise automotiva do HSBC na China, o avanço da rede de troca faz da CATL “uma nova proprietária de postos de combustível” no ecossistema de mobilidade elétrica.

No cenário atual, a China aposta em múltiplas soluções para eliminar a ansiedade de autonomia do consumidor e sustentar a rápida eletrificação de sua frota, seja pelo carregamento ultrarrápido ou pela substituição relâmpago de baterias.

Com informações de Financial Times