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Trump pressiona Fed e aumenta temor de dominância fiscal nos EUA

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NOVA YORK, 27 de março – A ofensiva do ex-presidente Donald Trump para ter maior influência sobre o Federal Reserve (Fed) reacendeu preocupações de que a política monetária norte-americana passe a servir de instrumento para reduzir o custo da dívida pública, e não apenas para controlar a inflação.

Na terça-feira (26), Trump declarou estar disposto a entrar na Justiça para demitir a diretora do Fed Lisa Cook, acusando-a de fraude financeira, e disse esperar “em breve” conquistar maioria no conselho da autarquia. Com mais votos a seu favor, ele pretende pressionar por juros mais baixos, afirmando que a medida poderia poupar “centenas de bilhões de dólares” ao Tesouro dos Estados Unidos.

Déficits altos e juros elevados ampliam conta da dívida

Os gastos com o serviço da dívida aumentaram devido a dois fatores: déficits fiscais maiores e a elevação das taxas básicas pelo Fed no período pós-pandemia. Economistas defendem que o ajuste deveria ocorrer pela via de corte de despesas ou aumento de impostos, não pela manipulação do custo do dinheiro.

Para especialistas, usar juros para garantir a solvência do governo caracteriza a chamada dominância fiscal, situação mais comum em economias emergentes e que coloca em risco a credibilidade de bancos centrais. “Precisamos de juros mais baixos porque os pagamentos da dívida estão explodindo. Isso é admitir que a política fiscal não vai se ajustar sozinha”, afirmou Eric Leeper, professor da Universidade da Virgínia e ex-economista do Fed.

Independência do banco central em xeque

Até o momento, o Fed mantém o discurso de que suas decisões consideram exclusivamente o quadro econômico. O presidente da instituição, Jerome Powell, iniciou em 2022 o ciclo de aperto monetário mais agressivo desde a década de 1980 e, neste ano, manteve as taxas estáveis mesmo diante de pressões políticas.

Entretanto, analistas veem espaço para mudanças caso Trump possa indicar o sucessor de Powell, cujo mandato termina em maio. O ex-mandatário já sugeriu o conselheiro Stephen Miran para uma vaga aberta no conselho e, se tiver êxito na saída de Cook, criará outro assento. Também há sinais de planos para reformular a estrutura do Fed e aumentar o controle sobre seus 12 bancos regionais.

Mercado reage e projeta medidas não convencionais

Após o anúncio contra Lisa Cook, os rendimentos dos Treasuries de 30 anos e o dólar recuaram. George Saravelos, chefe global de pesquisa cambial do Deutsche Bank, disse ver “riscos crescentes de dominância fiscal” e se mostrou surpreso com a relativa calma dos investidores.

Pela primeira vez, mais da metade dos gestores consultados pelo Bank of America aposta que o próximo presidente do Fed retomará programas de compra de ativos, como quantitative easing ou controle da curva de rendimentos, para conter o custo da dívida.

Outras propostas para aliviar os encargos

A equipe de Trump e aliados republicanos também discutem:

  • alterar regras de capital dos bancos para incentivar a compra de Treasuries;
  • exigir que stablecoins sejam lastreadas em títulos do governo;
  • aumentar a emissão de papéis de curto prazo;
  • aprovar projeto do senador Ted Cruz que proibiria o Fed de pagar juros sobre reservas bancárias.

David Beckworth, pesquisador do Mercatus Center da George Mason University, avalia que “a política fiscal está moldando cada vez mais a política monetária” e que os EUA se aproximam da dominância fiscal.

Déficit de 6% do PIB até 2028

No último verão, Trump sancionou um pacote que combina cortes de impostos e aumento de gastos, com impacto estimado em US$ 3,4 trilhões no déficit em dez anos. Mesmo com a elevação de tarifas de importação, a S&P Global calcula que o saldo final será praticamente neutro, mantendo o rombo fiscal perto de 6% do PIB até o fim de seu mandato – o dobro da meta de 3% fixada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent. Se confirmado, o endividamento superará 100% do PIB em período de paz, estabelecendo um recorde histórico.

O impasse cria um “jogo de quem cede primeiro” entre Congresso, Casa Branca e banco central, segundo George Hall, professor da Universidade Brandeis e ex-economista do Fed de Chicago. Para ele, se o Fed recuar, corre o risco de comprometer definitivamente sua reputação como guardião da estabilidade de preços.

Com informações de InfoMoney

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