Donald Trump diz que demitirá Lisa Cook, primeira mulher negra no Conselho do Fed

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump afirmou, na noite de segunda-feira (25), que pretende destituir a economista Lisa Cook do Conselho de Diretores do Federal Reserve (Fed), sob acusação de fraude relacionada a hipotecas. O anúncio foi feito em carta publicada na rede social Truth Social, intensificando a pressão de Trump para que o banco central reduza a taxa básica de juros.

Cook, que ocupa um dos sete assentos permanentes no Conselho do Fed, declarou que o presidente não possui autoridade para removê-la e reiterou que não renunciará ao cargo. Além dos diretores, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) é composto por cinco dos doze presidentes regionais da instituição e define o rumo da política monetária dos EUA.

Trajetória até o Fed

Indicada pelo presidente Joe Biden em 2022, Lisa Cook tornou-se a primeira mulher negra a integrar o conselho em mais de um século de história do Fed. Inicialmente confirmada para mandato que terminaria em 2024, ela foi reconduzida posteriormente para um mandato completo de 14 anos, válido até 2038.

Doutora em Economia, Cook lecionava economia e relações internacionais na Universidade Estadual de Michigan antes de assumir o posto em Washington. Sua pesquisa acadêmica aborda bancos centrais, crises financeiras, desigualdade racial e o papel da inovação no crescimento econômico.

No serviço público, atuou no Conselho de Assessores Econômicos do presidente Barack Obama e, nos anos 2000, trabalhou no Departamento do Tesouro.

Atuação no Comitê

Cook chegou ao Fed durante o ciclo mais intenso de alta de juros em quatro décadas, iniciado para conter a inflação. Desde então, votou em consonância com a maioria do FOMC e com o presidente Jerome Powell em todas as reuniões — inclusive nas cinco realizadas este ano, quando a taxa permaneceu inalterada.

Em declarações recentes, a diretora classificou como “preocupante” o relatório de emprego que apontou forte desaceleração das contratações no verão norte-americano, indicando possível ponto de inflexão da economia. Ela ainda não adiantou seu voto sobre eventual corte de juros na reunião de setembro, hipótese considerada por investidores e analistas.

Confirmação contestada

A aprovação de Cook no Senado enfrentou resistência de republicanos. O ex-senador Pat Toomey e o senador Bill Hagerty questionaram sua produção acadêmica, alegando foco excessivo em temas raciais. Hagerty chegou a acusá-la de falsificar o currículo — denúncia rebatida pela economista. A confirmação somente ocorreu após a então vice-presidente Kamala Harris desempatar a votação por 50 a 50, em 2022.

Origem e pesquisa

Nascida na Geórgia, Lisa Cook vem de família engajada no movimento dos Direitos Civis: seu tio, Samuel DuBois Cook, foi colega de Martin Luther King Jr. e tornou-se conceituado cientista político.

Em artigo de opinião no New York Times, Cook e a pesquisadora Anna Gifty Opoku-Agyeman relataram as barreiras que mulheres negras enfrentam na economia. Segundo o texto, em 2023 apenas quatro das 492 doutoras em economia formadas nos EUA eram negras.

Um dos estudos mais citados de Cook examina o efeito de linchamentos sobre o registro de patentes, concluindo que a violência racial reduziu o número de invenções que poderiam ter sido desenvolvidas. No Fed, ela tem discursado sobre inteligência artificial, inovação e produtividade, temas considerados centrais para o futuro do mercado de trabalho e da economia.

O mandato de Lisa Cook tem duração prevista até 2038 e, legalmente, a diretora só pode ser removida por justa causa, condição que ela afirma não existir.

Com informações de InfoMoney